Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

domingo, outubro 30, 2005

Farto de...

Farto de ser o culpado sem ter culpa de nada
Ser rejeitado, farto de conversa fiada
Farto deste sistema de merda que nos engole
Farto destes políticos a coçar colhões ao sol
Farto de promessas da treta
Sobem ao poder metem as promessas na gaveta
Farto de ver o país parado como uma lesma
Ver as moscas mudarem e a merda ser a mesma
Farto de os ver saltar quando os barcos naufragam
Quanto mais tiverem melhor, menos impostos pagam
Farto de rir quando me apetece chorar
Farto de comer calado e calado ficar
Farto das notícias na televisão
Farto de guerras, conflitos, fome e destruição
Farto de injustiças, tanta desigualdade
Cegos são os que fingem que não vêem a verdade
E eu tou farto...

Injustiça, Guerra, Racismo, Fome, Desemprego, Pobreza
E eu tou farto
Mentiras, Traição, Inveja, Cinismo, Maldade, Tristeza
E eu tou farto
Injustiça, Guerra, Racismo, Fome, Desemprego, Pobreza
E eu tou farto
Mentiras, Traição, Inveja, Cinismo, Maldade, Tristeza
Já chega...

Farto de miséria, o povo na pobreza
Uns deitam a comida fora, outros não a tem á mesa
Farto de rótulos, estigmas e preconceitos
Abrir os olhos e ver não temos os mesmos direitos
Farto de mentiras, farto de tentar acreditar
Farto de esperar sem ver nada a melhorar
Farto de ser a carta fora do baralho
Farto destes cabrões neste sistema do caralho

Ver roubar o que é nosso, impávido e sereno
Ser acusado de coisas que eu próprio condeno
Farto de ser político quando só quero ser mc
Não te iludas ninguém quer saber de ti
Todos falam da crise mas nem todos a sentem
Muitos com razão, mas muitos deles apenas mentem
Crimes camuflados durante anos a fio
Tavam lá todos eles mas ninguém viu
Não foi ninguém, ninguém fez nada,
E se por acaso perguntarem ninguém diz nada
Farto de ver intocáveis saírem impunes
Dizem que a justiça é para todos mas muitos são imunes
Dois pesos, duas medidas
Fazem o que fazem, seguem com as suas vidas
Para o povo não há facilidades
E os verdadeiros criminosos do lado errado das grades

"Boss Ac"

quarta-feira, outubro 26, 2005

Nunca dêem às mulheres as respostas que elas pensam que querem ouvir – Parte 2

Para onde é que estás a olhar?

Ora aqui está uma pergunta pertinente. Se Deus nos castigou com a habilidade de ver para além da roupa, porque é que não havemos de exercitar estes poderes? Resposta: porque a vossa namorada está convosco. Se não estavam tão mergulhados no decote a ponto de nem sequer ouvir os sons que vos rodeiam e conseguiram perceber a questão, não se ponham com merdas do estilo; “não estava a olhar para lado nenhum!”, como se ainda estivessem ofendidos e cheios de razão. Elas sabem que os nossos apêndices oculares vagueiam por decotes e mini-saias num torpor sexual vibrante, não gostam é de o ouvir da nossa boca. Se vocês não fossem uns estupores, diriam que estavam em pleno processo destruidor da roupa que cobre o magnifico corpo nu da sueca da mesa da frente. Mas, embora ela esteja certa disso, não o quer ouvir. Ela quer uma mentira, uma doce mentira, um inocente engano. Ou seja, quando confrontados com aquela invectiva, respondam que estavam a olhar para lá da sueca nua por debaixo daqueles míseros trapos e, para lá, há uma miríade de coisas… há ementas de restaurantes, há um velhote de cachimbo, há uma criança que brinca, alegremente, com um brinquedo novo enquanto os pais se deliciam com a sua felicidade! O que vocês têm que exercitar é uma técnica muito utilizada pelos agentes secretos e que é a de captar imediatamente todas as situações dentro da sala onde entram. Quando se sentarem para jantar, já têm que saber onde está o velhote de cachimbo, a ementa ou a criança.

A resposta certa a esta pergunta é;

“ – Estava a olhar para aquela senhora gorda sentada atrás de ti! Coitada, precisa de duas cadeiras…”


E tu gostavas de ir?

Um homem tem, em permanência, que ignorar o que elas perguntam efectivamente e ver para além da dúvida. Mais uma vez, elas não querem ouvir-vos dizer a verdade, não vos querem ouvir dizer que gostariam muito de ir ver a bola com os amigos e depois, quiçá, beber uns copos no bar onde trabalha aquela loura estonteante que vos presenteou com uns olhares sensuais. O que elas querem ouvir é que vocês abdicam completamente da vossa vida para ficarem com ela em casa, ainda que a noite se resuma a ver o “Fiel ou Infiel”, que é daqueles programas que mais problemas trazem a um artista do engano. É uma escolha difícil mas a perspectiva de sexo gratuito deve fazer-vos ponderar com parcimónia.

A resposta parece, portanto, obvia. Mas não é. Se vocês disserem que não gostariam de sair com os vossos amigos para uma daquelas festas a lembrar os tempos de faculdade onde tudo é permitido, ela vai ter a certeza que estão a mentir, porque embora queira ser enganada, quer sê-lo com qualidade, quer ver imaginação e empenho no engano. Têm, portanto, que lhe dizer que gostariam muito de sair com os vossos amigos, mas que têm planos para uma noite inesquecível a dois e que não trocam uma pela outra debalde.

A resposta certa, será, portanto:

“ – Gostava muito de ir, já há muito tempo que não saio com eles… olha, desde que te conheci!! Mas hoje desejo-te de forma animal e não há nada que te possa salvar.”


Alguma vez me traíste?

As mulheres perscrutam, em permanência, o nosso passado para daí tirarem ensinamentos para o futuro. Esta pergunta, nada inocente diga-se desde já, é daquelas que tem resposta mais óbvia e a resposta é não. Mas só isto não chega. Há todo um conjunto de indícios e movimentos corporais que têm que se associar à resposta para que pareça honesta. Neste caso têm que parecer ligeiramente ofendidos com a pergunta, mas não demasiado senão deixam cair a máscara, e franzir o sobrolho enquanto respondem;

“ – Nunca!! Se alguma vez acontecesse serias a primeira a saber e não o faria antes de ter terminado a nossa relação. Podes por isso ficar descansada, amo-te demasiado para te enganar. Nunca se sabe o dia de amanhã, mas se tiver intenções de te trair, serás a primeira a saber.”

Pois, pois… E o mais extraordinário é que elas comem-no de cebolada e ainda vos presenteiam com um beijo ou algo mais substancial.


Eras capaz de me trair?

Esta é a mãe de todas as dúvidas. É uma pergunta camaleónica, pode assumir variadas formas, mas pretende chegar ao conhecimento do futuro ou do que há-de vir. É uma pergunta bola de cristal.

Elas querem garantias de amor eterno. E, embora estejam conscientes que a resposta não tem validade lógica ou racional, querem uma resposta segura e reconfortante. Há uma quantidade de homens, pouco treinados nestas coisas, que se atiram de cabeça para respostas como “Nunca. Era incapaz de te fazer semelhante atrocidade!”. Mas estas respostas são facilmente desmontáveis se a vossa cara metade ainda reservar parte do cérebro para outras coisas que não sapatos. E como não é uma resposta plausível, vai gerar uma discussão sem fim e sem conclusões, o que é pior a todos os níveis. Serve isto tudo para vos dizer que não há uma resposta certa àquela questão. É excessivamente mal intencionada para admitir uma resposta confortável. E então, como sair dali? Não respondam, contra-ataquem! Passem a discussão para o campo adversário. Como? Assim;

“ – Era! Se tu mo fizesses primeiro. E disso podes ter a certeza, se me traíres, levas a mesma paga!”

A discussão, a partir daqui, fica nas explicações que ela vos tiver que dar. Ouçam com muita atenção tudo o que ela vos disser, porque ali vai estar a resposta certa à pergunta. E como todas as dúvidas das mulheres são recorrentes, da próxima, já sabem como fazer.

terça-feira, outubro 25, 2005

Nunca dêem às mulheres as respostas que elas pensam que querem ouvir - Parte 1

Guia para fugir airosamente de situações comprometedoras

ou

Nunca dêem às mulheres as respostas que elas pensam que querem ouvir

Os homens têm a responsabilidade, no que às mulheres diz respeito, de as proteger daquilo que as vai magoar, porque estes pequenos e frágeis seres são incapazes de compreender os problemas na sua intrínseca complexidade. Porque só nós é que sabemos o que é melhor para elas.

Serve este Guia para vos munir das respostas às perguntas mais comprometedoras que elas vos farão, de forma a não hesitarem nas respostas. Já se sabe que os homens, pelo menos aqueles mais incapazes, gaguejam com frequência enquanto pensam na resposta certa e esta denúncia do crime acaba, inevitavelmente, na confissão. Para que nunca tenham que confessar…


Como correu o teu dia?

Parece uma pergunta inocente, mas não é. O que elas realmente querem saber é; como é que estava vestida a amiga, a secretária, a colega ou a chefe… e se vocês repararam no decote… e sobre o que é que conversaram.

Esta recolha de informações, ao melhor estilo dos Serviços Secretos, vai permitir-lhes fazer o filme da traição a vir. A resposta certa a esta pergunta é;

- “Nada de interessante. Meia dúzia de aulas (ou reuniões) acerca de nada e depois só pensava em como o tempo passa devagar quando estou longe de ti.”.

Explorem até à náusea esta faceta feminina de acreditarem em contos de fadas. Não se esqueçam que elas não querem saber a verdade. O que elas querem é sentir-se seguras, o que é, de todo, outra coisa.


Como está a Maria? Já há muito tempo que não falas dela!

- “Não, não sei de nada. Isso é mentira!”.

Mesmo que mais tarde se venha a provar que era verdade, vocês podem sempre alegar que nunca viram nada e que o João nunca vos contou, ainda que isso seja a maior manha alguma vez inventada pelo magnífico cérebro masculino. Nunca denunciem um amigo, não porque tenham por ele uma amizade à prova de intriga e não se consigam imaginar na pele de um delator, mas porque, muito provavelmente, têm telhados de vidro e não vale a pena pôr toda a gente a falar de traição. Mais tarde ou mais cedo, chove-vos em casa. Neguem.

Se caírem na asneira de contar a verdade, a vossa mais que tudo irá logo contar tudo à esposa traída, que por sua vez confrontará o marido prevaricador, que negará… até perceber que foram vocês que o denunciaram e aproveitará para contar as vossas aventuras com todas as gajas, existentes ou imaginárias. O processo inverte-se e, pouco tempo depois, têm as malas à porta. E ainda correm o risco de levar um murro no focinho do vosso compincha na arte do engano.


Reparaste naquela mulher!? Vai quase nua!

Os cegos, míopes e astigmáticos severos são abençoados neste mundo de roupa reduzida, podem sempre alegar que não viram nada por causa da deficiência. Mas e os outros? Não se atirem de cabeça para uma resposta do tipo “Não, filha. Só tenho olhos para ti!” porque o mais provável é levarem logo com a carteira nas beiças. Elas querem ser enganadas, mas não abusem. Atirem uma à matador;

- “Vi! É impossível não ver, não é? Aquilo não me diz nada, detesto ver gajas boas a passearem-se quase nuas nos Centros Comerciais. Vê se percebes que, nós homens, não gostamos disso. É muito mais sensual imaginar do que ver tudo assim à descarada!”.

Cuidado, treinem muito, porque vai ser difícil dizer isto sem desatarem a rir-se à gargalhada. Mas elas vão gostar porque uma frase daquelas tem todas as características de uma mentira perfeita. Começa com a verdade e acaba com algo difícil de catalogar... mas é este mesmo o segredo do engano, misturar factos verídicos com mentiras monstruosas.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Encontro

O encontro entre duas pessoas é como o contacto entre duas substâncias quimicas: se houver uma reacção, ambos se transformam.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Em defesa das mulheres

Quando se vê uma mulher ao volante dum carro de grande cilindrada, o que pensa este povo mesquinho? Que anda a dormir com o chefe e que a promoção foi uma troca comercial. Assim, sem mais! Tanta mesquinhez e inveja... não pode ser.

Pois fiquem a saber que há mulheres que se esforçaram, investiram e conseguiram casar com homens ricos, sem nenhuma relação profissional com elas!

terça-feira, outubro 11, 2005

Sem condições de trabalho..

Gosto de embalar crianças, mas sem fita adesiva os caixotes abrem.

Fim do Zé Ro

Pois é.
É o fim do Zé Ro.
Tudo o que é bom tem um fim e é assim que cessa a saga desse menino prodígio de seu nome Zé Ro.

Obrigado a todos os que me apoiaram ao longo desta semana, prometo que continuarei a postar frequentemente (isto já parece é a fase de agradecimentos na entrega dos óscares..).

sábado, outubro 08, 2005

Folhetim nº 7 – A história de Zé Ro – A Infância

Tudo começou a correr um pouco melhor quando o pai do puto conseguiu arranjar emprego. A bem dizer aquilo não era bem um emprego, seria mais um trabalho. Foi o Centro que lho encontrou já que ele sozinho não teria conseguido, ainda que o tivesse tentado. Naquele dia, lá em casa, dos três, havia dois contentes com a situação e um mais insatisfeito e, dos dois mais felizes, nenhum deles tinha que se levantar mais cedo no dia seguinte para ir trabalhar.

Pois, o pai do puto não tinha ficado verdadeiramente feliz pela escolha. “Olha que ele há cada um”, dizia ele, “então praí tantos desempregados foram logo escolher-me a mim! É o que dá não ter cunhas! Olha que não chamaram o filho do Oscar do Banco. Pois está claro que não... Tinham que chamar o Rodrigues, não tem padrinhos!”

Aquilo em termos líquidos ia representar uma melhoria de salário, em relação ao subsidio de desemprego, de 100% e, por tão pouco, mais valia estar quieto. Mas no Centro, numa atitude déspota, não permitiram mais uma recusa e disseram-lhe que se não aceitasse aquele trabalho, o despediam. “Então e se me despedirem daqui do Centro de Emprego onde é que me inscrevo?” perguntara na altura o velhote, “Vá mas é trabalhar!”, responderam-lhe, “Pois... eu queria ver era se não me calhava isso!”, retorquira, “Então só há uma hipótese, tem que ir à Junta e concorrer ao Subsidio!”, tornaram, “Concorrer...!? Quanto é que se paga pela aposta?”, disse, “Vá-se embora”, vociferaram-lhe, e ele foi.

Chegou o dia da apresentação ao serviço e o Rodrigues lá foi com a marmita debaixo do braço e a roupa mais apresentável vestida, sim, porque era um homem pobre, mas honrado e vaidoso. “Ora cá está o Sr. Rodrigues, pessoal, é o novo Técnico-Auxiliar de Salubridade das Áreas Comuns e dos Mecanismos Elevatórios de Pessoas e Cargas”. Aquilo soou-lhe logo bem, aliás, não deixou de suar durante o resto do dia. Agarrado ao carrinho das limpezas, lá andava o Rodrigues de um lado para o outro, de esfregona na mão, a tentar não ser visto a fazer o que quer que estivesse a fazer. Foi então que o Sr. Doutor Juiz o viu, sentado nas escadas a reflectir sobre o caminho que a humanidade estava a tomar ou na forma de se escapar dali para fora. “Quem me dera ser varredor!” atirou-lhe o Juiz já alterado, “Estudasse!” dissera-lhe o Rodrigues, ainda muito a tempo do Juiz o ouvir e de lhe apontar o dedo em atitude pouco condigna com a sua Douta posição. Lá acabou o primeiro dia sem conhecer completamente as suas funções, ou pelo menos o chefe aceitou a desculpa como boa e prontificou-se, desde logo, a instrui-lo melhor no dia seguinte.

Os problemas aconteciam a seguir ao trabalho. É que o Rodrigues gostava mais de vinho do que de trabalho, mas isso nem era o pior porque não tinha mau vinho. O pior é que gostava mais de bagaço do que de vinho, e esse era um problema grave, porque com o bagaço era velhaco. E, normalmente, ressacava nos costados do Zé Ro e da mãe. Só nos melhores dias é que isto não acontecia e era sempre uma alegria naquela casa quando tocava o telefone e do outro lado falava o Rogério, já perdido de bêbado, a dizer que o Rodrigues estava desmaiado no bar e que tinham que o ir buscar. Logo o Zé Ro e a mãe se levantavam, vestiam e perfumavam e saltitantes, lá seguiam em direcção à taberna.

Esta melhoria das condições em casa reflectiu-se imediatamente na produtividade do puto na escola pelo facto, desde logo, de ter começado a frequentá-la diariamente. E também melhorou a sua relação com os colegas a partir do momento em que os pais lhe ofereceram uma bola em segunda mão, por altura do Natal, que se aguentava, sem mentir, uma boa meia-hora sem esvaziar, o que permitiu que o Zé Ro deixasse definitivamente a baliza e começasse a decidir também as regras do jogo, marcação do campo e outros privilégios do dono da bola. E como era mais velho quase dois anos que os outros, também deixou de levar porrada de toda a gente e passou a levar apenas dos mais fortes, o que significou uma descida significativa de calduços por dia útil de trabalho.

Foram os tempos mais felizes da sua infância. E naqueles tempos o Zé Ro só esperava que o pai, homem de vicio fácil, se viciasse no trabalho. Nunca aconteceu, mas lá se aguentou, de ameaça em ameaça, até à reforma, sem nunca ter percebido bem o que fazia. Aliás, nunca conseguiu, sequer, pronunciar correctamente a categoria profissional e, menosprezando-se e à sua função, dizia-se ser um varredor de escadas, o que nem sequer era das suas atribuições ou competências, já que essas estavam a cargo da Dona Leonor, a Técnica de 1ª Classe de Conservação de Acessos Irregulares Não Rolantes e de Superfícies Vítreas de Interior e Exterior, Funcionária de 2º Escalão da Carreira Subalterna da Função Pública...

sexta-feira, outubro 07, 2005

Folhetim nº 6 – A história de Zé Ro – A Infância

Chegou o dia do primeiro teste e o Zé Ro não se sentia preparado. Não é fácil estudar quando em casa não há mesa, cadeira, candeeiro e paz para se sentar em descanso a fazer os deveres. E embora ele tivesse isso tudo, faltava-lhe a vontade.

A primeira pergunta do teste era uma ratoeira. “1+2= …”. Que é que isto quereria dizer, quais seriam as opções? Teve que a deixar para o fim, havia ali qualquer coisa estranha e não valia a pena precipitar-se.

A segunda pergunta era ainda mais complicada e ele viu logo que aquilo não ia correr nada bem! “Copie o texto: Se eu fosse uma galinha não podia voar e toda a gente ia explorar-me sexualmente.” Tentou logo virar-se para o Tó que não fazia outra coisa que estudar:

- O que é que eu escrevo aqui? - perguntou o Zé Ro;

- Tens que copiar esse texto! – disse o Tó como se fosse a coisa mais fácil e natural do mundo;

- Mas eu não estudei esta parte da matéria, pensei que não saísse!

- Só tens que copiar Zé Ro, copia! – disse o Tó já alterado;

- Isso é o que eu estou a tentar fazer mas tu não me deixas, pões-te aí com essas tretas e não ajudas!

A terceira pergunta parecia ser de história! “Quem foi o primeiro Rei de Portugal?”. “Porra pá, como é que se chama o gajo, raios partam que estas brancas só aparecem quando não devem. É aquele que a mulher até entrou na Quinta das Celebridades… A Cinha! Como é que se chamava o gajo… “ pensava o Zé Ro já preocupado. Melhor seria deixar esta também para o fim, haveria de se lembrar.

Por fim, a composição. “Diga o que lhe aprouver acerca de um escritor que conheça.”

“Vá lá, uma que sei! Ora bem…

“Gustava de comessar por diser que eu leiu bastantes livros e que gosto munto. O meu iscritor perferido é o José Sarraceno que já ganhou o Prémio Móvel da Literacia o outro dia. Gosto munto dele proque conseguiu sacar uma espanhola e despois teve que fugir para as ilhas gregas proque o marido da sinhora o ameassou de purrada e ele já é velho e não pode meter-se nessas vidas de luta. Este iscritor tem muntos possidónios sendo o mais conhecido Adalberto Caeiro que era pastor, como Adão. Escreve em vária línguas e até em protuguês às vezes. É munto cunhecido porque tem óculos e comunista e quando fala na tlevisão parece que está sempre chateado connosco. Também gosto munto de outros mas como isto já vai cumprido vou só falar doutro de que gosto e que é o Camilo Castelo Branco que até tinha uma série engraçada na tlevisão como aquela em que ele era sucateiro com o filho e era engraçado, como é que se chamava era “Camilo & Filho…” acho eu. Mas depois de ter casado com aquela velha amaricana ficou abichanado e quando foi para a Quinta dos Animais parecia uma mulher. Bem mas quando era casado com a Catarina Furtado noutra série e ela se chamava Ana Flácido e foi por isso que ele se matou, porque a Catarina não parece flácida e depois ele teve essa desilusão e matou-se cego. E gosto doutros mas a folha já está a acabar e depois a Sinhora profeçora tem munto trabalho.”

Ainda voltou atrás no teste e respondeu às perguntas todas. Na primeira pergunta respondeu “3” que é a conta que Deus fez e se serviu para Deus também havia de servir para ele. E conseguiu copiar o texto do teste do Tó. Quanto ao nome do Rei… nunca lá chegou. O pai disse-lhe depois que tinha mudado, que eles faziam caixinha entre eles para todos subirem ao poleiro e que agora o primeiro Rei tinha um nome esquisito de filósofo homossexual e pedófilo... Sófocles ou o raio!

quinta-feira, outubro 06, 2005

Folhetim nº 5 – A história de Zé Ro – A Infância

As coisas na escola não corriam nem bem nem mal. O puto só não percebia o que é que estava ali a fazer! Se o objectivo daquilo era prepará-lo para um dia tirar um curso superior porque é que estavam ali a perder tempo com tretas como P-A PÁ T-O TÓ. O que raio é um PÁTÓ!? É uma tralha qualquer da primária que ninguém entende! Percebeu logo que era essa a razão da literatura só aparecer no currículo passados uns sete ou oito anos. A juntar letra a letra só passado esse tempo é que se consegue ler um texto decente!

Ele bem tentava dar alguma animação àquilo mas a professora não levava isso com grande humor e acertava-lhe dez reguadas para ver se lhe passava o furor. Ficou-lhe dessa altura o tique de piscar os olhos e encolher os ombros sempre que contava até dez.

Era quando a professora mandava sair para intervalo que o puto renascia. Lá se juntava com os outros futebolistas numa peladinha a sério. Até inventou uma táctica para não parecer que era sempre o último a ser escolhido. Deixava os outros começar o jogo e aparecia logo de seguida;

- Ei, também posso jogar? Estes estão a menos!

Embora a equipa escolhida dissesse logo;

- Não faz mal Zé Ro, deixa lá!

a outra começava logo a contagem. Isto às vezes demorava um bocado!

- Ora bem - dizia o Chico que já andava na segunda classe - um, dois, … dois… qual é a seguir?

- acho que é sete! - dizia o Zé Pedro que era o filho do carteiro.

E lá ficavam sete de cada lado sempre com a mesma táctica, o Zé Ro na baliza, um gajo à frente dele e dois avançados. A outra equipa tinha três avançados sendo um deles também guarda-redes. Aquilo é que era! É claro que metade do jogo era passado a discutir as regras do guarda-redes volante ou da linha lateral ou mesmo da marca de grande penalidade que, dependendo do dono da bola, era três ou vinte passos, mas eram momentos de verdadeira felicidade. Tudo se resolvia a contendo e quase sempre sem violência. De verdade, de verdade, as coisas só azedavam quando as raparigas lhes ocupavam o campo com brincadeiras mariquinhas de bonecas e casinhas. Normalmente nestes encontros entre gangs a bonecada ficava com deficiências permanentes ao nível da amputação dos membros e lá corria reguada para tudo quanto fosse rapaz porque as meninas eram umas queixinhas desavergonhadas. E não melhoram com o tempo...

Mas o intervalo acabava logo. Muitas vezes ainda eles não tinham partido nenhuma janela e já a professora tocava a sineta. Era muito rígida!

Lá dentro o método pedagógico resumia-se às cópias. E o puto era bom a copiar! Dava muito menos erros que nos ditados, esses é que eram um terror com a professora lá à frente a falar como que em câmara lenta e isso adormecia-lhe o cérebro e não só.

- o… mo-cho… re-bo-cho… vo-a-va… ponto final - dizia a professora;

- o qu’é que é vuá va!? - perguntava o Zé Ro ao seu colega de carteira;

- vuá va quê!?;

- quê o quê!?;

- Ah!?

E nem valia a pena perguntar outra vez porque o Manel também não tinha percebido nada. Era burro como um testo, fez-se deputado da nação. O puto tinha que se fazer sozinho e não podia contar nem com a professora que essa era ainda mais incapaz do que o Manel ou não tivesse ficado na Escola Primária por quase trinta anos! O Zé Ro fê-la em seis!

E assim correu a escola até ao dia em que, sem ajuda de ninguém, conseguiu segurar a caneta apenas com uma das mãos. Na escola é essencial ter sempre uma mão livre mas ele só compreenderia isso passados uns anos.

quarta-feira, outubro 05, 2005

Folhetim nº 4 – A história de Zé Ro – A Infância

O puto crescia raquítico e patético e no dia em que o pai percebeu que já assinava correctamente o seu nome, entregou-lhe a escrita da casa. Não era contabilidade complicada de fazer! O pai não fazia nenhum, a mãe vivia parasitariamente dos rendimentos do pai e as contas resumiam-se à soma dos calotes que os dois acumulavam no café da esquina. Era um equilíbrio orçamental complicado de alcançar mas o hábito de viver na miséria e o rendimento mínimo garantido iam equilibrando a balança de pagamentos. Está bom de ver que, com esta escola, o puto haveria de se fazer alguém na vida, talvez conseguisse mesmo entrar para a repartição de Finanças ou, mas isso era sonhar alto demais, para a caixa de um banco.

E sempre que tinha algum problema grave, a partir desse momento, era a ele que o pai recorria até porque a mãe ou estava tão alcoolizada que nem falar conseguia ou a aviar um cliente no barraco e não podia ser incomodada enquanto trabalhava. “Puto onde é que estão as cuecas?”, “puto quando é que se come cá em casa?” ou “puto dá-me o dinheiro todo que conseguiste gamar porque estou com sede, senão parto-te a fuça seu deficiente!” eram questões e pedidos frequentes a que o puto respondia com toda a diligência na esperança de manter o enorme orgulho do pai e de não levar uma punhada nos cornos.

Percebemos agora melhor o espaço próprio que esta criança alcançava naquela casa, que era um espaço pequeno ainda, normalmente à volta do fogão, mas era um espaço em crescimento, no trabalho e na responsabilidade já que se o trabalho não fosse feito por ele, era chamado à responsabilidade.

Esta é a forma certa de crescer, como dizia o génio, o carácter forma-se a partir da deformação do corpo. E nisso, como em tudo o resto, o pai era um educador responsável, que deixava a formação do carácter para a escola e a deformação do corpo para casa, num espírito de cooperação que haveria de moldar a personalidade deste jovem. E o puto lá ia ajudando no que podia para que os seus pais tivessem uma vida mais descansada. Porque ele compreendia bem, apesar da juventude, que estar desempregado há quase três anos cansava muito o pai e por isso entendia que ele passasse mais tempo a dormir do que a beber cerveja.

O quotidiano do puto não diferia muito do de uma criança qualquer neste nosso país à beira mar plantado. Levantava-se por volta das quatro da manhã com o regurgitar do pai e diligentemente ia despejar o penico para que aquele pudesse continuar a exercitar os abdominais; ia depois, por volta das seis, mendigar pão para a porta da Ti Maria Padeira que já o esperava com o pão duro do dia anterior e, por último, ia às traseiras do café do Ti João e do lixo tirava as borras mais frescas para o café. Regressava a casa pelas seis e meia e fazia o pequeno-almoço para si, pão seco com café, e para os pais, duas cervejinhas geladas e um pires de tremoços. Em dias especiais ainda dançava o fandango à frente do pé do pai.

Lavava-se rapidamente porque o pai tinha-lhe ensinado que muita água fazia mal à saúde e depois de ter arrumado a casa e colocar em ordem a fila de clientes da mãe, seguia para a escola.

A tarde não diferia, mais uma vez, do quotidiano de uma criança de seis anos. Regressava da escola ainda muito a tempo de preparar o jantar enquanto os pais descansavam de um dia duro. E enquanto o puto mexia nas panelas, punha a mesa e aspirava a casa, os seus pais tinham discussões sexuais na varanda. Eram uma família feliz!

terça-feira, outubro 04, 2005

Desculpas

Ultimamente, como todos já devem ter reparado, tenho feito posts com um intuito diferente. Este é mais no gozo e de carácter trocista.

Devido aos vários mails que tenho recebido, quero pedir desculpa a todas as pessoas que preferíriam k eu fizesse + posts como os de antigamente.

Tomarei os seus pedidos em consideração e, de futuro, verei o que se pode arranjar para satisfazer a todas as pessoas.


PS. Os posts de carácter sério estão do dia 15 de Julho para trás.

Obrigado

Folhetim nº 3 – A história de Zé Ro – A Infância

Passados três anos do dia do seu nascimento o puto já parecia maior que no dia em que nasceu e o pai começou a duvidar da traição da mulher. Bem, dizia ele, se calhar com o tempo o puto cresce. E assim foi!

Quando fez seis anos, já maior que aos três, o pai achou por bem matriculá-lo na escola, não sem que se tivesse discutido o assunto em família.

A mãe não concordava, mas as dúvidas passaram-lhe quando saiu do hospital e à chegada a casa o marido lhe perguntou se queria voltar a cair das escadas.

Dizia ela que o ganapo era muito novo e que não ia fazer nada para a escola porque não sabia ler nem escrever. Era um argumento de peso!

Mas o pai retorquia que a culpa era dela, que na família dela eram todos burros e que se não se calasse com aquelas merdas levava um murro no focinho para saber o que era bom para a tosse. Eram igualmente argumentos de peso!

O pai conseguiu fazer valer a força dos seus argumentos e lá foi o puto.

E foi assim que, quando terminou o primeiro dia de escola e o puto recolheu à sua mansão, o pai correu para ele, sacou-lhe o livro das leituras do saco das compras, abriu numa página à sorte e disse: Lê o que está aqui escrito. O puto encolheu-se todo e disse: Não sei ler. O pai olhou para o puto, para o livro, para o puto e disse: É mesmo isso que está aí escrito!? Tu não me mintas, caralho!

E a partir daquele dia o pai começou a respeitá-lo como pessoa com uma inalienável dignidade ética.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Folhetim nº 2 – A história de Zé Ro – A Infância

E foi assim que naquele dia de Maio, numa República distante se estiverem a ler isto no Japão, nasceu este homem esquecido pela História.

Nasceu por volta da hora de almoço da médica parteira e com deficiências graves. Completamente cego, meio surdo, careca e desdentado. A mãe quando o viu deu um grito lancinante porque lhe estava a passar o efeito da anestesia. O que guardaria o futuro àquela criança?

Foi milagre quando cerca de um ano depois o desgraçado se levantou e começou a andar. A mãe fez-se beata porque nesse dia tinha levado o filho à missa e viu logo que tinha sido milagre. Como um milagre nunca vem só, está escrito na Bíblia, pouco mais de um ano depois começou a falar mas não dizia nada de jeito, o que levou a família a pensar que o pequeno era sobredotado e que sabia falar uma língua estrangeira. A tal ponto que o levaram ao Mestre-escola que não conseguiu resolver o mistério daquela súbita recuperação. É milagre, aventou.

Muito mais que tudo isto preocupava o pai o facto da criança ser muito pequena. Menos de um metro. Um dia lembrou-se que, pouco antes de ter nascido, uma semana antes, mais coisa, menos coisa, tinha passado na povoação um circo com um anão. Concluiu logo que a mulher o tinha traído e mal chegou a casa deu-lhe um enxerto de porrada. A pobre nem sabia porque lhe caíam, mas nem precisava. A regra de um homem honrado é bater na mulher. Se ele não souber porque o faz, ela saberá de certeza.

Isto não deu em divórcio, mas o pai nunca mais o viu da mesma forma. A mãe, enquanto era esbofeteada, conseguiu vazar-lhe um olho.

domingo, outubro 02, 2005

Folhetim nº 1 – A história de Zé Ro - A infância

Esta é a verdadeira história desse grande homem de metro e sessenta, que não conseguiu mudar o mundo porque nunca o tentou, incompreendido no seu tempo porque era gago e que morreu já velho porque ninguém fica cá para semente.

De seu nome de registo José Ro, porque aquele a quem chamava pai estava tão bêbedo quando o foi registar que desmaiou antes de conseguir dizer Rodrigues, nasceu no dia 14 de Maio de 1980. Numa coincidência extraordinária, como podem facilmente comprovar se souberem ler e escrever (para este caso contar também ajuda), se somarmos os algarismos do dia do seu nascimento vamos encontrar o mesmo número de anos que completou, naquele mesmo dia, 5 anos depois.

Se continuarmos neste acção numerológico-sobrenatural e somarmos os algarismos do ano do seu nascimento encontraremos o número 18 que é igual ao número de anos que tinha quando atingiu a maioridade, uma vez mais naquele mesmo dia; e se somarmos tudo, dia e ano, obteremos, como poderão facilmente comprovar mais uma vez se não forem burros como cepos, o número 23 que é a idade que completará daqui a 22 dias.

Chegados aqui vamos somar 23 e 22 e subtraír 32 que é a inversão do primeiro (doutra forma não funciona) e obteremos o número 13, do azar e da aparição de Nossa Senhora em Fátima.

Mas as coincidências não terminam aqui na vida deste homem marcado pelo Destino, que era o nome do cão da vizinha do 3º esquerdo que lhe ferrou a perna deixando-lhe uma marca para a vida. Se agora somarmos 64, que é um número completamente escolhido à sorte, àqueles primeiros 5, obteremos 69 que é a única forma de sexo que alguma vez conseguiu perpetrar porque a mãe, convencida que ele era uma menina, colocou-lhe a mola do cordão umbilical na pilinha e este atrofiamento resultou no apodrecimento e queda da mesma. E se àquele 69 somarmos 11 que é a idade de uma prima minha, obteremos 80 que é a idade do meu avô, numa série inexplicável e notável de coincidências que vos trazem até mim, o biógrafo deste homem à frente do mito.