Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

sexta-feira, julho 15, 2005

Palavras

Sinto um aperto no coração. Pego na caneta e tento escrever... Tento traduzir em linguagem compreensível, o que não consigo perceber.
As palavras não saem... A folha permanece branca e tu escondida dentro dela. Tu e os outros todos. Tu e aqueles onde te procuro e te tento reinventar, a ti que és tudo o que quero. Fito a folha furiosamente, como se a culpasse da minha imaturidade. Gostava de poder escrever tudo o que sinto. Gostava de poder ter à vontade para não andar à deriva, gostava de te escrever uma carta de amor e gostava de te encontrar nalguma noite escura, num dos becos desta cidade cinzenta onde me escondo...Tentei ser o que não era e sentir o que não sentia. Tentei ser mais forte do que sou. Tentei ser feliz onde só vislumbrava escuridão. Achei que conseguia... Achei que tinha todas as respostas, mas algo chegou e mudou-me todas as perguntas.
Agora onde as posso procurar? Em ti...? Como se é de ti que eu fujo cada vez que me aproximo? Tu não és real. Não posso procurar perguntas ou respostas num sonho ou numa fantasia... E ironicamente também não posso continuar neste vazio labirintíco, à procura de respostas às perguntas que não conheço... Agora mudei. Agora procuro as perguntas. Procuro as perguntas em ti... em mim... neles e no tempo. No tempo que me parece tão fugaz e sem sentido... No tempo, na prespectiva, na dúvida se não será a memória o ponto crucial do nosso ser, porque o momento simplesmente passa... Às vezes pergunto-me se realmente vivo. Quando estou sozinho na escuridão apaziguadora do meu quarto, pergunto-me se todas as memórias, se todos os momentos realmente existiram e que momentos irrefutáveis os seguirão... Na escuridão do meu quarto procuro as perguntas em orações, no meu coração e no tempo que não consigo agarrar. Tenho medo que todos os momentos passem e que chegue ao derradeiro que durará uma eternidade... Descobri que tenho medo de apagar ou de esquecer as minhas memórias, porque elas dão sentido ao presente e aos momentos e trazem a doce ou amarga expectativa do futuro, que me faz sempre continuar em frente...
A vida é tão irónica e tão fugaz. A vida não tem sentido. O presente não tem sentido. Porque no momento a seguir passa a ser passado... Não percebo.
Não encontro as palavras. Não há palavras para descrever o que eu não compreendo. Não há nenhuma linguagem matemática ou outra, capaz de traduzir toda a plenitude de um ou mais sentimentos humanos...
As palavras... tão fugazes. Às vezes acho que são as palavras que marcam realmente algo na sequência da vida louca que vivemos... Na vida suja e podre em que vivemos. Na decadência que nos precede, que apodrece os nossos gestos, que viola as nossas virtudes e que corrompe as nossas intenções. Na lasciva vontade desprovida de nobreza que nos move. Porque fazemos o que fazemos? Porque fazemos o errado se sabemos à partida que não resulta? Porque não nos arrependemos de o fazer...?
No outro dia pensei sobre as crianças e em como cada novo humano tem que reaprender o que os seus antepassados se esforçaram por perceber e descobrir e achei que se houvesse alguma forma de passar estes conhecimentos geneticamente, muita sabedoria estaria ainda hoje conservada... E perguntei-me porque não seria assim. E percebi. Originaliade. Autenticidade. Não poderiamos ser diferentes, ser únicos e distintos se não nos fosse dada a oportunidade de reaprender o que os nossos pais e avós já sabiam... É esta reaprendizagem que nos fornece a originalidade e a capacidade de inovar e de formar opiniões e ideais diferentes sobre o Mundo.
E esta é a escolha mais bonita e libertadora que nos foi dada, quando nos foi impingido o nascimento... Vale a pena viver. Vale a pena procurar as perguntas. Vale a pena tentar. Vale a pena errar. Vale a pena viver a fugacidade de cada momento para poder viver outro a seguir.
Vale a pena ficar deitada no escuro à deriva... Porque assim sei que ainda me resta o mistério... a descoberta, o momento a viver. Haverá algo mais poético que isso?
A oportunidade...
Esta é a minha. E eu vou vivê-la. E vou errar se assim for necessário. E vou aprender com isso. E vou voltar a errar. E vou voltar a aprender com isso... E algures no caminho hei-de encontrar a paz e o culminar de todos os momentos.
Se isto não faz sentido, não sei o que mais possa fazer...Estas são as minhas palavras sem sentido. Palavras que se soltaram dos dedos e que formaram um texto confuso e emaralhado.
Não importa... Continuam a ser as minhas palavras.
Palavras...
Palavras...
Terão vocês o poder de ecoar? De ecoar na eternidade? De ecoar dentro do coração de alguém...? Estão a ecoar no meu! Conseguem ouvi-las...?
Chiuuu...
Silêncio... É lá que elas se escondem... Prontas para sair quando as soubermos escutar...
Chiu...
Silêncio.
Palavras.
Vida...
Tu.

quinta-feira, julho 14, 2005

Adormece

Adormece...
Deixa-te cair nesse leve estado em que pões a cabeça lentamente sobre a almofada, em que repousas de forma tímida sobre a esfera do mundo à tua volta, dormes agarrada para um lado, com a boca sobre a almofada...como se a beijasses de volta ao conforto que ela traz, pela sua textura macia que tu adoras, aos teus cabelos como uma pintura exposta sobre a cama.
Fecha os olhos agora e pensa em qualquer coisa, pensa e não penses muito, deixa a imaginação levar-te onde for que ela te leve, não racionalizes demasiado, não penses sobre o pensar, não queiras perder o sono a pensar na vida, quando a vida é feita sem pensar, sem lógica, é reacção,acção e direcção, é um estímulo que nos leva...é o impulso eléctrico da alma carregada do poder fulminante do amor.
Antes, faz com que a tua maneira de dormir seja o teu estado mais puro, sem que ninguém ou nada te possa incomodar, como uma fotografia sem acção, só a sensação leve de alguém a voar em sonhos...
Adormece por favor para que eu possa ir sonhar contigo também, para que nada se interponha entre nós, para eu poder encostar a minha cabeça à almofada e pensar em ti, como nunca pensei antes, como só tu me podias levar a pensar, estende a mão enquanto dormes sem teres noção, estende o braço bem no ar, finge que me tocas nem que seja só para eu sentir que estás aí...e eu vou de olhos fechados abrir os meus braços, vou sorrir sem saber que estou a sorrir, sorrir-te e agradecer que tenhas vindo ter comigo hoje, ontem ou amanhã...
Vou tocar a ponta do teu dedo com a ponta do meu, como se bastasse só isso e mais nada para te poder tocar em todos os lados, como se aquela extensão fosse o teu todo e o meu dedo, fosse eu na totalidade, só tu e eu, mais nada...puro vazio de ausência corporal...estados superiores e sentimentos puros...consegues sentir?
Deito-me e espero, como se a cama fosse um casaco de forças que me prende e não me deixa adormecer, dizes-me do teu lado que não consegues dormir, imagino a confusão, a luta dos dois lados para adormecer...os dois a querer correr para a estrada à chuva, sem conseguir sair deste estado de confusão, de aperto, a roupa da cama enrola-se nos pés, parece demais, parece o casaco de forças, o corpo ressente-se em espasmos e reclama por outra coisa, reclama por alguém...pede-te, ordena-me o teu nome em vozes diabólicas, eu entro em febre e ardo, queimo o teu nome na testa, grito e peço que venhas rápido, mais rápido, ainda mais que isso, do nada...aparece-me agora...! A almofada é uma máscara que eu de forma paranóica julgo, me vai engolir a cabeça, sugar os meus sonhos, prender a minha imaginação, tirar-me todo o prazer de te querer, vai tornar-me racional, robótico e sem sentimentos, vou ser uma máquina que se consome a si mesma em dor? Não vou, não quero, não será assim! Sou eu! Sou eu! Grito e esperneio contra o mundo, contra a escuridão...tento em vão alcançar a luz que agora está longe, é tudo o que me resta, mas não está lá, os cobertores enrolam-se em mim como se me enterrasse em areia movediça, prendem-me e eu já não tenho força para gritar, para chorar, para ser infeliz...só grito pelo teu nome, espero que ouças, que venhas...!
Tiro a almofada debaixo da cabeça e atiro contra os fantasmas, morram, desapareçam,não sejam mais do que isso mesmo, fantasmas, alucinações, extinção, supressão e aniquilação! Fantasmas e paranóias, sejam mais do que aquilo que vos peço, sejam zero e pó, vento vos leve e me traga por favor a calma...a almofada atinge-vos e tudo cai por terra...silêncio dos ponteiros do relógio, marca-se o tempo e eu não adormeci.
Pouso a cabeça na cama, lembro-me do que disseste e sorrio, estás aí...eu sei que estás. Dorme comigo hoje, ainda que distantes, camas diferentes e escuridões diferentes...mas dorme comigo hoje.

Trago-te comigo e sinto tanto, tanto a tua falta...

quinta-feira, julho 07, 2005

(in)Existência

Acompanhas-me com passos silenciosos. A brisa sacode, das árvores floridas, penugens que descansam nos meus cabelos. Pergunto-me se farás alguma tentativa de os libertar...
Trocamos pensamentos, esforço-me por me fazer entender e mostrar-te a minha visão das coisas. Escutas, quieta, calada. Ouço-te no silêncio, pensas diferente e ainda assim gostas de mim e deixas-me falar, usando todas aquelas palavras que me cansam, todas aquelas que achas poucas, todas...
Nada espero do deserto onde o teu sorriso é o oásis, e ainda assim desejo-o. Vibro com a sensação de estar perto, de te tocar de forma a deixar marca, não na pele mas lá dentro, aquela que não se apaga, que não seca e não sara, a que cria memórias e saudade.
Busco na ausência do olhar a presença do teu sentir, mas é o vazio que encontro, nada descubro, nada me orienta.
Escondes-te dentro de uma muralha dourada, convidativa mas impenetrável, perto mas longínquo.

Olho na tua direcção e não te vejo. Não existes...

quarta-feira, julho 06, 2005

Em suspenso

Refugio-me nas palavras secretas, fruto de um momento de incontrolável sentir, antes guardado e abafado, tal a sua estranheza. Palavras, onde viajo em direcção a um lugar desconhecido e distante onde procuro o calor que aconchega e preenche.
A imensa distância que nos separa é atenuada pela proximidade de algo que não se vê, mas que nos torna suficientemente próximos para se sentir o derreter do gelo que nos envolve. Na certeza do poder que ganha cada novo desenhar do desejo contido, deixo a imaginação criar imagens fantasma de um futuro que não será. O destino é outro...
Equilibro-me na linha, fina e frágil, de um "talvez", que acredito apenas ter sonhado. E assim vivo; respirando devagar, concentro-me nas palavras fugazes, imaginárias e sem importância, nas quais me encontro suspenso.

terça-feira, julho 05, 2005

Mais...Melhor...Impossível (?)...

O desejo de alcançar algo mais do que "isto"... Cada vez melhor... Porque a rotina dá apatia... Porque há sempre algo diferente e que nos transmite novas e desconhecidas sensações... Porque a nossa alma é inconformista... E grande parte das vezes é para nós indiferente que as atitudes que cometamos prejudiquem outros, ou não...
Não te apetecia conseguir descodificar mentes? Saber até que ponto está a veracidade dos sentimentos no interior do outro? Não seria bom descodificar o futuro, saber quais seriam os passos correctos a dar, sem medo de falhar? E até que ponto vai a confiança? Pois há quem consiga mentir tão bem.... E acreditar, deixarmo-nos voar ou levar pelas asas de alguém... E nunca mais voltar....

Este Mundo (Ser) perfeito não existe... Para já...

Quanto tempo leva a conhecer verdadeiramente uma pessoa? Como é isto possível se estamos sempre em vias de mudar e de nos tornarmos outra pessoa? E porque será que eu penso demais? E porque é que desejo sempre aquilo que é aparentemente impossível?
Inconstante, inconformista, impulsivo, rebelde, complicado(?) demais... É isso que pensas de mim? Eu não quero nem saber...

Podes olhar para onde quiseres, mas nunca me verás... Podes tocar-me onde quiseres, mas nunca me sentirás completamente... Serei sempre imagem ténue de um sonho impossível (só para ti)...

segunda-feira, julho 04, 2005

Inconstância

A tinta da caneta vai engolindo letras e sentimentos que tento sacudir numa folha de papel branca. Num sopro as letras fogem da tempestade de regras misteriosas e assustadoras. Sou uma criança louca, a tentar apanhar letras como quem luta pelas bolas de sabão perdidas no vento. Vou mastigando metáforas, vou sentindo verbos enquanto outros vão cuspindo calúnias entre inveja e hipocrisia. O copo de água já não dissolve o letrado. As paredes são feitas de meras linhas direitas onde escrevo torto. Com sangue também sei escrever. As paredes sabem disso. A alma já não é espírito, torna-se rascunho. Os olhos reflectem sonhos enquanto a boca vai grafando ilusões. As palavras são sórdidas de medos da profunda dor cravada na pele. Não são sentimentos, são palavras que nos fazem surdos em momentos lúdicos, que nos fazem gritar silenciosamente. Vou-me reencarnando em palavras cheias de teias de aranha que vim a descobrir em livros abandonados na gaveta. Ápices de loucura. Rasgo folhas, quebro canetas e vou gozando a tinta das mesmas na minha roupa.
A história (re)começa...

Ando perdido...


Após quatro meses ausente, regressei.