Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

quarta-feira, novembro 16, 2005

Folhetim nº 8 – A história de Zé Ro – A Infância

O último ano na Primária foi difícil porque a professora não o queria passar. E isto levantou suspeitas de conduta imprópria que levou a Comissão de Pais a reunir. Ela bem dizia que o puto era especial, que ainda não sabia ler direito, mas disseram-lhe logo que o fizesse sentado e que se ele não sabia as coisas, os filhos deles também não, que não eram menos que ninguém...

- Olhe que esse Zé Ro não é mais burro que o meu filho, de certeza!

- Nem que o meu!

- O meu não é burro, é um cão...

E por aí em diante. E quando a acusaram de preferir o puto, ela chorou, não de tristeza, ou de raiva, mas porque o filho do Sr. Antunes da mercearia a pisou. E ela teve que lhe acertar uma galheta nas ventas e a mãe atirou-se a ela e arrepelaram-se. E acabou a reunião.

E assim, forçada pelas suspeitas, acabou por lhe dar guia de marcha dali para fora e passou-o de ano, para o Ciclo! Mas na vila, lugar mesquinho de intriga vil, ficou sempre a suspeita, pairando como uma folha de papel sobre a sua cabeça, mas assim com o vento a bater na folha por baixo, mas sempre, porque senão a folha cai ao chão e estraga-me a figura de estilo. E à sua passagem as mulheres diziam:

- Ó Comadre, aquela é a tal que é pedagoga, como aqueles da televisão! Até há quem os tenha visto juntos!

- Onde!?

- Na Escola.

- Ai a porca!

E à sua passagem os homens diziam:

- Ó boa!!

E passados nove meses, a Professora foi mãe! E esta informação, colocada aqui a martelo, pode levar-nos a pensar muitas coisas. Mantenham-se concentrados, que o puto tem apenas dez anos! Vamos lá minha gente, é preciso atenção!