Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Contradições

Sou o sim e não de mim mesmo e a solidão daí resultante. Sou o riso e o choro. O infinito e o infinitésimo. Sou a solidão resultante do diacronismo inevitável do excesso de pensar. Da obsessão de pensar, de desconstruir mentalmente a realidade. Quero parar, por favor, ajudem-me a parar este ciclo vicioso de prós e contras, de cenários hipotéticos para aquilo que ainda vai acontecer. Quero sentir, deixa-me sentir! Deixem-me sentir! Por favor, deixem-me sentir. Deixem-me amar se quiser amar, deixei-me mortificar se me quiser mortificar. Não concordes, nem discordes só pela pura necessidade de concordar ou discordar ou dizer o que seja. Não precisas de dizer nada, não precisas de fazer nada. Deixa-me amar-te, ou odiar-te ao sabor das minhas contradições. Não te vou incomodar com as dispersões da minha personalidade. Nem tampouco dizer-te que gosto de ti da forma mais pura que jamais gostei de alguém. Da forma mais pura que, jamais, pensei ser possível gostar de alguém. Não, não to vou dizer. Nem a ti, nem a ninguém, nem a mim mesmo. Minto-me, iludo-me. Finjo ser o que não sou. Finjo que te amo, que te odeio, que tenho por ti a maior amizade do mundo, quando não há dia que passe sem que sonhe um pouco, pelo menos só um pouco contigo. És tu e és nada. Como eu. Tens a beleza das coisas simples que tanto desejo. E agora, porque não sei ser de outra forma, penso. Porque é a única coisa que posso fazer sem que alguém me incomode ou me perturbe. E penso em ti, neste momento, penso em ti, e sorrio e choro, de amor e de saudade. De solidão por apenas poder sonhar. Não quero sonhar, não quero pensar. Quero ser tu. Quero ser eu. Tudo simultaneamente numa emaranhado de fios que ligam isto a outra coisa qualquer que não interessa o quê. Mas não te preocupes, não te incomodo. Não te direi que te amo.

Sinto-me pequeno, tão pequeno que a caneta chega a ser maior que eu, um peso quase indomável, insuportável. Mas não posso parar, tudo pode acabar e de mim restará apenas aquilo que eu consiga transportar para esta folha. Finjo, finjo, finjo, finjo e continuarei a fingir da mesma forma que continuarei a escrever nesta folha de papel. Finjo pelo escasso prazer – o único a que me permito – de me moldar ao ritmo da escuridão, da sedução. Contradições, sou todo contradições. Sou Hamlet e Platão.

Deixa-me ficar… quero chorar, sorrir. Quero morrer, amor, quero morrer. Não aguento nem mais um momento de ser o sim e o não de mim mesmo, já que não chego nunca a ser o sim ou o não. Sou o “nim” de mim mesmo. Sou o que digo e o que faço, sem ser nada disso. Quero viver! Rouba-me um beijo, deixa-me o desejo. Deixa-me sentir…