Inconstância
A tinta da caneta vai engolindo letras e sentimentos que tento sacudir numa folha de papel branca. Num sopro as letras fogem da tempestade de regras misteriosas e assustadoras. Sou uma criança louca, a tentar apanhar letras como quem luta pelas bolas de sabão perdidas no vento. Vou mastigando metáforas, vou sentindo verbos enquanto outros vão cuspindo calúnias entre inveja e hipocrisia. O copo de água já não dissolve o letrado. As paredes são feitas de meras linhas direitas onde escrevo torto. Com sangue também sei escrever. As paredes sabem disso. A alma já não é espírito, torna-se rascunho. Os olhos reflectem sonhos enquanto a boca vai grafando ilusões. As palavras são sórdidas de medos da profunda dor cravada na pele. Não são sentimentos, são palavras que nos fazem surdos em momentos lúdicos, que nos fazem gritar silenciosamente. Vou-me reencarnando em palavras cheias de teias de aranha que vim a descobrir em livros abandonados na gaveta. Ápices de loucura. Rasgo folhas, quebro canetas e vou gozando a tinta das mesmas na minha roupa.
A história (re)começa...
Ando perdido...
Após quatro meses ausente, regressei.
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