Um pequeno homem
Quando a planície se recortava atrás de si, com aquele sol a nascer lá ao fundo, os dias pareciam começar com um sentido diferente, quando caminhava à sua procura e todos os dias encontrava nada. Partiu numa busca diferente, queria ser feliz e poder um dia olhar para trás dizendo que tinha sido uma busca incessante como quem procura o sentido da vida, tinha-a procurado em todos os cantos do mundo, tinha visto mil e uma coisas...mas nada lhe fazia sentido. Como alguém tinha dito um dia, "saberás tu o que é amar alguém, mais do que te amas a ti mesmo?", não sabia, não imaginava, gostava apenas de saber e julgar que alguém um dia, lhe poderia dizer isso como quem diz um simples olá, que alguém sentisse esse aperto no coração de ter a incrível necessidade de mandar tudo cá para fora, encher o mundo de coisas doces, colorir as pinturas mais tristes, inverter o significado de tristeza, fazer alguém feliz, fazer alguém sentir-se importante...e ser assim sentido também. Procurar refúgio no abraço de alguém, poder procurar esse refúgio sem receio de um dia o perder como se perde a chuva quando o sol bate nos olhos, os campos secam e os telhados pingam...como o amor pinga de um coração ferido, expulsa sangue e chora as lágrimas que só ali pode chorar. Esperava quase impacientemente por um anjo que nunca mais vinha, porque o céu insistia em ser negro quando tocava a esperar que caíssem anjos, mas a busca não iria parar, a necessidade de ser feliz e de fazer alguém feliz não podia depender de tristezas que nos amarram, a procura tinha de ser até ao dia em que morresse e suspirasse pela última vez, sozinho ou acompanhado...teria de saber dizer nessa altura que tinha sido feliz, nem que fosse naqueles pequenos momentos já quase apagados da sua memória. Teria de ser mais forte que a própria vida, lutar contra obstáculos que não via, cair e saber levantar-se de cada vez que a vida o mandasse ao chão, ao mesmo tempo que gritava para si mesmo que não era agora que ia desistir, que não havia força maior que a sua determinação, que podiam dizer o que quisessem, mas as mágoas só nos tornam mais fortes e não precisamos de nos esconder ou ter medo do mundo que está aí fora para nos magoar, teríamos era cada vez mais de lutar com mais força, passar para lá dos limites do aceitável em termos de loucura, saber amar, suspirar por um suspiro, morrer a cada beijo que se dá, deixar um pouco de alma em cada mistura de almas que se faz...e talvez levar para a eternidade o sabor e o cheiro de cada amor que se tem.
Ao som dos pássaros que viviam felizes na planície, apeteceu ao pequeno homem fechar os olhos e chorar durante um bom bocado, pedir à vida mais sorte e talvez alguém para tomar conta dele, mas qual era o sentido de pedir quando estava completamente só naquele turbilhão? Se aquela maré arrastava dores e paixões que arrebatavam toda a sua maneira de ser, se os sinais lhe diziam para ser outro, para não pensar como quem acredita em finais felizes, se era pedir muito ter alguém com quem partilhar a vida?
A resposta é que nunca veio, mas o pequeno homem, caminhou e eventualmente um dia caiu morto de tanto lutar...só nunca se soube se da última vez que olhou o mundo e avaliou a vida, conseguiu sorrir à morte dizendo que tinha sido alguém realmente feliz...
3 Comments:
Procuro o mesmo que esse pequeno homem... não me digas que isso leva uma vida inteira, preciso de acreditar que pode tardar mas vai aparecer. Só dessa forma poderei sorrir à morte. **
1:06 da manhã
vejo esse homem em cada um de nós... e espero que ele tenha podido sorrir à morte, tal como espero um dia poder fazê-lo sem medo do cordão que me prende.
beijinhos grandes * mais uma vez, superaste-te! :)
9:32 da manhã
o ritmo alucinante das frases e das palavras deixou-me sem fôlego para outras palavras, quaisquer que sejam elas... gostei... como já te disse... gostei muito... beijos prodígio
6:14 da tarde
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