Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

segunda-feira, outubro 03, 2005

Folhetim nº 2 – A história de Zé Ro – A Infância

E foi assim que naquele dia de Maio, numa República distante se estiverem a ler isto no Japão, nasceu este homem esquecido pela História.

Nasceu por volta da hora de almoço da médica parteira e com deficiências graves. Completamente cego, meio surdo, careca e desdentado. A mãe quando o viu deu um grito lancinante porque lhe estava a passar o efeito da anestesia. O que guardaria o futuro àquela criança?

Foi milagre quando cerca de um ano depois o desgraçado se levantou e começou a andar. A mãe fez-se beata porque nesse dia tinha levado o filho à missa e viu logo que tinha sido milagre. Como um milagre nunca vem só, está escrito na Bíblia, pouco mais de um ano depois começou a falar mas não dizia nada de jeito, o que levou a família a pensar que o pequeno era sobredotado e que sabia falar uma língua estrangeira. A tal ponto que o levaram ao Mestre-escola que não conseguiu resolver o mistério daquela súbita recuperação. É milagre, aventou.

Muito mais que tudo isto preocupava o pai o facto da criança ser muito pequena. Menos de um metro. Um dia lembrou-se que, pouco antes de ter nascido, uma semana antes, mais coisa, menos coisa, tinha passado na povoação um circo com um anão. Concluiu logo que a mulher o tinha traído e mal chegou a casa deu-lhe um enxerto de porrada. A pobre nem sabia porque lhe caíam, mas nem precisava. A regra de um homem honrado é bater na mulher. Se ele não souber porque o faz, ela saberá de certeza.

Isto não deu em divórcio, mas o pai nunca mais o viu da mesma forma. A mãe, enquanto era esbofeteada, conseguiu vazar-lhe um olho.