Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

terça-feira, dezembro 28, 2004

Porque é o Nada

Dou voltas e voltas, começo sempre a escrever qualquer coisa e não me apetece parar, apetece-me continuar, mas há sempre qualquer coisa a falhar, há sempre um verbo que não faz justiça ao que quero dizer. Começo a escrever e sinto que não vai levar a lado nenhum, que as palavras não cabem dentro do que penso, que se eu tentasse sequer escrever-te como quem quer definir qualquer coisa, teria de gastar milhares de páginas ou provavelmente só um adjectivo, tudo dependia do que me apetecia dizer.
Caio no erro e penso que já disse tudo o que podia dizer, que já fiz tudo o que podia fazer (sendo que este tudo é nada), questiono o que há mais na vida para além disto e depois concluo que vida existe, mas não há viver sem amor.
Não há dias bem mais claros que os escuros só porque estou aqui, há sim raios de sol que nos são oferecidos muitas vezes sem se saber, há nuvens que desaparecem só porque tu respiras e o vento que isso provoca, afasta tudo do céu menos o azul que eu gosto de olhar.
Não há sorriso que se compadeça com a solidão de à noite adormecer a pensar que não há ninguém do outro lado, seja ele qual for, não há ninguém a adormecer a pensar em nós, não há saudades, não há necessidades, não há nada...mas fechar os olhos e pensar, mesmo antes de cair num estado profundo, pensar que estás ali, nem que seja do outro lado do telefone, ainda que eu não tenha dinheiro para te ligar... tu estás ali para me proteger enquanto durmo só porque pensas em mim.
Não há vozes que soem melhor do que outras, há uma monotonia geral naquilo que se ouve, uma cassete que teimo em não querer ouvir porque sei que algures, em qualquer lado, há alguém que vai saber cantar para mim como eu nunca ouvi ninguém cantar, porque há alguém que tem exactamente o que eu quero...e eu terei exactamente o que tu queres, porque tu estás por aí em algum lado, porque eu não tenho mapas para te descobrir, porque tu não estás à vista e eu nunca pensei que fosses tu, serás tu? Não sei quem é...nem eu sei quem sou por vezes.Dilema de nunca saber para onde me virar quando estás perto ou longe, dilema de nunca conseguir olhar com calma para as pedras da calçada e pensar que elas também, já estão no seu lugar há muito tempo a ser pisadas, porque eu não quero ficar parado no mesmo sítio, isolado de tudo o resto por um monte de argila, porque eu não quero ser pisado, porque eu quero sair e ter pedrinhas contigo, porque eu quero ter um sítio só para mim onde só tu poderás entrar, naquele mundo que eu nunca consigo distinguir. Quero que tu e só tu tenhas acesso aos meus medos, que sejas tu que entres com a luz dentro das minhas suposições e me dês certezas que eu não consigo ter, que os meus defeitos sejam para ti o melhor que eu tenho e vice-versa, as minhas qualidades que sejam só mais umas como quaisquer outras que eu não consigo disfarçar, prefiro que adores a minha teimosia e imaturidade do que simplesmente gostes do facto de eu ter piada, de eu ter uma alma que era capaz de se torturar primeiro só para experimentar e avisar como era...
Detesto quando não sei mais o que fazer, detesto olhar em volta e ver o mundo mais simples que eu consiga conceber, com aquela complexidade que eu sei que existe mas que prefiro ignorar, porque o próprio mundo se tornou um lugar simples, porque não existe a complicação de te conquistar todos os dias, porque não há flores que te possa oferecer se não sei quais são as flores que gostas, porque nem sei como olhar para ti sem me desfazer em mil bocados que gostavam todos sem excepção de ser colados por ti, os mil bocados que eu sou são como o puzzle que ninguém compra na loja, só porque é muito difícil.

Não há nada perfeito neste mundo mas tu consegues roçar o seu limiar, sejas tu o que fores ou que eu pense que podes ser, não sei e não consigo deixar de pensar que é o maldito mistério que mais me encanta nisto tudo, sem querer ser um sherlock holmes que no fim te vai descobrir morta em qualquer lugar, sem querer descobrir pistas que me levem a pensar que és louca...só quero saber...só gostava de saber se existia uma possibilidade, mas é como perguntar a deus se há justiça na morte de alguém, se há necessidade de tirar daqui isto ou aquilo, se isto nos faz falta e aquilo é imprescindível.

Como uma sombra que eu tenho na parede do meu quarto, como o tal caleidoscópio sem cores ou mesmo a impossibilidade de cheirar, sentir e provar, tenho-te enquanto memória fotográfica dentro da minha cabeça, tenho-te presa a todos os fios de que sou feito, tenho-te aqui e ali...mas na realidade não te tenho.