Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

terça-feira, dezembro 28, 2004

O Fogo

O mundo vai acabar por me consumir, quando um dia o fogo do que me rodeia, após nada sobrar, me encarar nos olhos e me disser que agora sou eu, que não posso fugir mais, que vem aí a chama e eu só poderei escolher como a enfrento, se a olho nos olhos como quem vê a própria morte ou se decido fugir, fechar os olhos e esperar que não doa, não magoe muito, até pode ser que nem sinta...

Tu és fogo que arde e que se vê, não faz sentido pensar que não há luz onde ela emana, não faz sentido pensar que não há calor onde ele brota, não faz fumo sem poder fazer fogo, porque tu ardes por aí na escuridão e eu quero olhar, parado, fixar os olhos enquanto tu danças sem sair do mesmo sítio, enquanto tu consomes tudo à tua volta, queimas oxigénio e eu sinto o ar a faltar-me, enquanto eu te peço que me reanimes e tu me vais queimar com os teus beijos, onde o fogo vai entrar em mim e nunca mais vai sair, vai queimar-me, marcar-me e atingir-me, resta saber se dói...

Não sei se queres arder, se preferes desvanecer-te, se preferes nem acender, não sei...eu não tenho nada que acenda, eu não faço fogo, eu não sou mágico, não sou quase nada senão mais um, apenas um que tem instintos piromaníacos com o teu fogo, que quero pegar fogo à minha alma contigo, que só quero ficar assim, mas tenho de enfrentar a escuridão para ver o fogo, a escuridão...que me traz só memórias de sombras a mexer, barulhos na minha cabeça e um nada. A sombra que percorro não tem luz alguma, tem ao fundo qualquer coisa que arde e que se vê, não dá para dizer o que é ou como é, arde e parece que chama por mim, por isso eu vou, sem dúvidas eu vou e eu fico, aliás...por isso eu vou e quero ver se fico, se me deixares ficar, se eu conseguir ficar... Mas tu queimas e não és de destruir, queimas porque é teu queimar, com a intenção de construir, com a vontade de viver e aproveitar tudo o que queres aproveitar...não gostas de quebrar e consumir, tens medo de me transformar em pó, também eu dispenso ficar reduzido a partículas, mas só o saberei se tentar meter a mão no fogo e ver se suporto a dor, ver se há algum problema em arder contigo...só ver e sentir...nada mais, como quem diz que isto fosse pouco.

Sei que não quero pisar o fogo, não quero que ele se apague e corra o risco de nunca mais acender, porque uma chama ténue é para ser tratada com cuidado, aquele cuidado que se tem quando as coisas parecem tão sensíveis que dá a sensação de nem estarem ali, só sabem a uma agradável sensação de engano...que não está ali nada, que é tudo fogo que arde mas sem se ver, porque há quem arda neste mundo, há quem pegue fogo e há quem goste de ver arder...mas nada arde assim...nada pega assim nem ninguém saberá nunca a calma que me dá, ver-te arder e crescer enquanto ardes...tudo porque me quero queimar e deixar consumir.