Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

domingo, dezembro 26, 2004

Palco de um Sonho

O dia terminava confortavelmente com o meu corpo estendido na cama. Estava pronto para entrar em cena, subir ao palco onde o meu sonho teria lugar. Hipnotizando-me a mim mesmo, atravessei o portal na penumbra e iniciei a contagem dos sonhos, um após o outro. Desviando a cortina, avistei um sol brilhante que tentei abraçar. Vi-me coberto de folhas e flores, descalço, percorrendo labirintos de paredes que se moviam à medida que o meu corpo dançava e bebia a chuva, engolindo-a pelos poros. Colado ao chão, arrastei-me, de tão pesado que me sentia. Era eu, era água. Deslizei lentamente e arrefecendo, a minha pele pintada de verde esmeralda tocava as rochas que desenhavam a costa. Mergulhei no alto-mar, fui bebido pelos peixes e flutuei nas ondas até comer areia. Pisei cada grão como quem pisa pedras preciosas e guardei-as no meu coração, que um dia seria arrancado e introduzido num corpo que com ele estaria completo e fechado a cadeado, como um tesouro. O meu corpo vermelho seguia agora por canais desconhecidos e era violentamente projectado em movimentos que se repetiam. Eu permitia a Vida e o meu relógio sem pilhas nunca parava, oferecendo-me o tempo que eu desejava para extasiar-me com cada momento de adrenalina que sentia ao ser projectado. Ria, ria, ria como um louco, sempre olhando os ponteiros pretos do relógio, que de súbito revelavam uma pequena mancha de ferrugem que crescia a cada passo meu. Tive medo. Parei. Parou o tempo. Parou tudo. Fui novamente envolvido pela penumbra. Morri?