Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Uma luz na escuridão

Perdido no escuro. É assim que me sinto quando o Sol se levanta e o dia se apresenta. Os dias solarengos são, para mim, uma noite escura, uma noite sem estrelas. Um céu negro coberto de nuvens carregadas de nada, o vazio permanente. Viver no escuro, sem qualquer ponto fixo por onde olhar, nenhuma referência onde possa prender o olhar. A imaginação é o pouco que me resta; o pouco que não me chega, o pouco insuficiente que não me deixa satisfeito. Julgava algum dia poder abrir os olhos e ser cegado pela luz do Sol, a luz dourada de que tanto falam, o rápido reflexo num fechar de olhos. No entanto, mal abro os olhos para o céu, num dia de Verão, continuo a olhar fixamente, em busca de alguma diferença naquilo que vejo habitualmente. À procura de algo que não seja negro. Algum raio de Sol que furasse a cortina escura que insiste em manter-se à minha volta, ocultando tudo o que se passa em meu redor. Os dias assim são, atento ao mais pequeno ruído, um barulho mais alto arrepia-me os pêlos dos braços.
“O toque...”
O toque divino, a sensação debaixo dos dedos. O tumulto de sentimentos ao sentí-la aflorar a minha pele. As suas mãos, longos dedos finos e suaves, fadas que a cada toque despertam magia. O meu Raio de Sol, tudo aquilo que alguma vez desejara ver. Mas o véu preto abate-se sobre os meus olhos, impedindo-me de ter a visão perfeita.
Os cabelos sedosos, da cor do Sol.
O meu mundo diurno da escuridão transforma-se em tons de cinzento esbatidos ao caír da noite. Os olhos fechados, o corpo adormecido. É nesses momentos que vivo; vivo atrasado no tempo, é certo, mas a minha vida tem mais sentido nos meus sonhos. Apenas quando estou aparentemente inconsciente consigo recuperar parte do meu sentido perdido há muito. Consigo, nesses momentos, ter uma vida completa. Tudo o que se passa durante os meus dias obscuros volta para mim nos meus sonhos, mas desta vez, a minha vida é completada com alguma visão, pois embora só consiga ver a triste cor acinzentada, posso reviver os meus momentos de ternura, os tempos em que estou furioso. Poder ver as expressões faciais, os traços próprios de cada um.