Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

terça-feira, dezembro 28, 2004

Aparição

Existiu um tempo em que tudo era silêncio. Onde tudo era escuridão. Um tempo inundado nas trevas da frieza e da tristeza. Um sítio, onde as estalactites vertiam as lágrimas da solidão e onde os caminhos estavam cobertos pelo denso matagal da ignorância. Uma casa, sem janelas e sem a luz do calor humano. Onde as portas estavam trancadas com uma chave desfigurada pela banalidade do sofrimento.

Foi então que chegaste tu, vestida de uma ternura estranha e quase estridente, como o som ensurdecedor da explosão de uma estrela, que embate no sol. O teu toque majestoso que abriu as janelas imundas de intolerância, numa paisagem coberta de cinzas, que o vento teima agora em afastar. A chave quebrada pela tua ilusão, funde-se no chão e em pó desfeita grita a cor para todas as paredes sujas e definhadas pelo tempo vazio de sinceridade.
Aproximas-te quase levitante, e apagaste a escuridão que vertia desta lâmpada apagada. Um sorriso breve e quase infantil. Condensou uma luz ténue sobre mim, e o cinzento pálido da insatisfação desvaneceu-se. E criaste à minha volta uma cúpula de cristal que se refinava como o pôr do sol, num instante efémero lapidada no mármore.

Foi este o instante que me deste. E que importa se durou apenas um segundo? Esse fotografia jamais será apagada nem esbatida pelo tempo. Essa guardo-a eu. E tu, quando a revelas. Esse instante. O nosso instante...