Adormecido
Contaram-me uma história, de que algures, existia alguém que durante a noite, preteria o sono, para poder contemplar as estrelas, para as poder admirar desde o seu primeiro raiar até que se se escondiam quando o sol nascia... alguém que via nas estrelas o único momento de repouso, porque elas escreviam-se umas com as outras, dando-lhe a ler as cartas que na realidade ele nunca leria... criavam as palavras que ele nunca ouviria, davam-lhe o silêncio que ele nunca conheceria... as cartas que esperava receber, com o seu nome gravado a fogo, e a data da eternidade. Não fechava os olhos, não se deixava adormecer, porque tinha muito para ler... a esperança não desaparecia. Um dia as palavras apagaram-se assim como os remetentes, e ele adormeceu. Esperara a eternidade pela palavra, que apesar de tudo não lera, pelo silêncio que apesar de tudo, não chegara... adormecera na eternidade. Deixara, porém, uma carta escrita. Com letras gravadas a tinta, e não a fogo, e a data de um dia qualquer, e não da eternidade. Uma carta, dobrada na mão, com o calor de uma paixão que demorou todo o sempre a não existir...
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