Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

domingo, dezembro 24, 2006

Sonho


Vou esperar que a lua chegue
Para te abraçar
Porque só quando a lua está alta
É que sabe bem abraçar-te

Vou esperar que adormeças
Para te beijar
Só quando adormeces
É que sabe bem beijar-te

Vou esperar que o mundo se esqueça
De ti e de mim
Que o mundo se esqueça de nós
Para te amar
Porque só quando o mundo se esquece
É que sabe bem amar-te

Vou esperar que aquela luz pendurada no tecto
Se extinga
Vou esperar que o burburinho das crianças na rua
Se acalme
E que os ruídos obscenos da vida das outras pessoas
Se dissolvam

Vou esperar que chegue aquela hora
Em que os sonhos campeiam as mentes
E os pesadelos assustam os corações
Vou esperar que chegue essa hora
Que é também uma hora de dor
Uma hora de morte
Uma hora de solidão
Para te procurar
Para pegar em ti
Na tua luz
No teu riso
Nas tuas mãos
Para pegar em ti e te levantar
Para pegar em ti e sarar esta ferida que trago nos olhos
Porque os meus olhos são duas feridas

Vou esperar que chegue o dia
Em que possa tomar as tuas mãos nas minhas mãos
Sem laços
Sem cordas
Sem algemas
Em que as tuas mãos sejam mesmo as tuas mãos
E não haja dor
Não haja mágoa
Não haja ferida que nos separe

Vou querer que um dia um palhaço ria
E esse riso seja sobre nós
Sobre mim e a tua vida
Sobre estes caminhos que se juntaram
Sobre esta pedra que esculpimos
E que colocaremos no adro daquela aldeia pequenina, perdida, abandonada
Onde juntos um dia tu e eu daremos as mãos
Livres de algemas
Livres de cordas

Vou querer um dia abrir a janela de casa
E ver no relvado
Cá em baixo virado ao sol nascente
E face ao rio lânguido e tranquilo que corre
Um riso de criança
Pintar o céu
Com as cores
Que tu e eu um dia sonhámos
Quando daremos as mãos livres de algemas.