Não acreditava no que os meus olhos me diziam, por isso servi-me dos meus sonhos, descobri o que já sabia, e aprendi uma nova maneira de voar...

quinta-feira, abril 20, 2006

Realpolitik

Quando é que deixámos de nos preocupar? Desde quando é que querer um mundo mais justo se tornou num discurso demagógico? Para que planeta é que fugiram os idealistas? Porque é que, assim que nos indignamos com a prepotência dos mais poderosos, vem logo alguém, sobranceiro, ensinar-nos que o mundo não é o paraíso que queremos, que é mais pragmático, que os interesses das pessoas e dos estados se sobrepõem a critérios de decência? Porque é que ao ler estas questões torcemos o nariz e dizemos que ingenuidade!?

Somos um povo triste e mesquinho, com excepções.
Temos um complexo de inferioridade crónico, canceroso, daquele tipo que pode ser controlado mas que não desaparece. Somos o povo saudoso do passado imperial que, qual cão ferido e encurralado, se assanha na recordação de Tordesilhas e de como já fomos donos de metade do mundo. Mas, no fundo, somos o povo do pode ser.
Somos um povo de cócoras, agachado, que quando queremos muito alguma coisa aceitamos outra coisa qualquer porque pode ser. Somos o povo do pode ser esta? quando pedimos outra.
Aceitamo-lo porque a vida não é o que queremos dela, temos que ser pragmáticos. Somos quase tão ridículos quanto a aversão dos homens de esquerda às gravatas, ingenuidade de pensar que a justiça se encontra a partir da gola-alta. E à realpolitik respondemos com um muito bem! porque pertencemos à parte moralizadora do mundo e aceitamos qualquer sacrifício dos outros.
Morrem pais e filhos além porque alguém daqui o disse? Azar. É a vida. Tem que haver sacrificados para que este mundo viva em equilíbrio. Até porque se disséssemos outra coisa qualquer passaríamos a pertencer ao grupo dos ingénuos e demagogos, e isso não. Afinal já fomos donos de metade do mundo.